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Artigo- Sonho Real
Marcelo Sanches Okimoto
Artigo- Sonho Real
17/02/2004 08:57:54
por Coordenadoria de Comunicação Social

Durante toda a minha vida senti vontade de viajar.

Lembro da alegria que me invadia quando sabia que a nossa família, eu, meus irmãos, minha mãe e meu pai íamos viajar. A espera pelo dia da partida, os preparativos, a bagunça dentro do carro ou do trem, as paradas para o lanche, os passeios, a companhia das pessoas de que eu gosto ... Que saudade ! A viagem era desbravar um mundo cheio de surpresas.

Fui estudar fora da minha cidade natal na preparação para o vestibular. A partir desse momento, com outras expectativas, provava outro sabor com a minha nova viagem. Entrar na faculdade me propiciou conhecer gente diferente e vi o despertar da minha consciência. Mas a minha viagem não parou por aí ... Eu queria mais, não estava satisfeito e tomei coragem para mudar a minha trajetória, de futuro engenheiro para ...

E cheguei no Japão. Em três anos naquele país pude, intuitivamente e com liberdade, construir um roteiro que me permitiu conhecer a língua japonesa, a neve, lugares maravilhosos, templos seculares, comidas exóticas, tecnologia de ponta, pessoas com costumes e cultura que não imaginava que um dia iria conhecer.

De lá, estive em Moscou por três meses. Foi um encontro com antigos ideais de transformação social, com ídolos. Fiquei fascinado com o cenário de uma das revoluções que abalaram o mundo.

Passando para um ambiente mais quente e parecido com o Brasil, vivi uma semana em Cuba em um misto de alegria, admiração, encantamento. Conhecer “La Bodeguita”, suas praias, a salsa, ouvir as pessoas discutindo com tanta informação, ver os avanços na saúde e educação aqueceram meu coração. Mas também me entristeceu a situação de ruas, automóveis, monumentos estragados, velhos, sem expectativa de conserto devido ao embargo econômico dos Estados Unidos.

Já em Lima, foi diferente, foram seis meses muito tristes. Encontrei um lugar cheio de história, mas com gente marcada pelo sofrimento, pela miséria, pela exploração.

Havia chegado a hora de retornar ao Brasil, com uma bagagem de ter vivido intensamente todos os lugares em que estive. Voltei para cá com vontade de ter uma pousada ...

E a viagem continuou pelo charme da Chapada dos Guimarães, com sua paisagem, com uma gente com consciência ecológica e que fala do lugar com amor e conhecimento de sua potencialidade, que faz sua vida com responsabilidade, mas construindo um projeto de como também viver do que a Chapada oferece aos turistas. Lá consegui sentir que devia pensar que além de ter a pousada, era preciso estudar o assunto, viver outras experiências, conhecer mais pessoas.

Para Nova Xavantina foi um pulo. Para um universo rico, para conhecer, dentro do meu próprio país, um outro povo. Os Xavante me aceitaram como uma pessoa inteira e de repente me vi convivendo com gente que tem um outro jeito de olhar para a vida, nem sempre melhor do que o nosso mas, certamente muito bonito, coerente com sua lógica, tentando se harmonizar num ambiente tão adverso. Dentro do mesmo cenário, em oposição, vejo os colonizadores da região como uma miscelânea de sonhos nordestinos, paulistas, gaúchos, goianos, garimpeiros e outros tantos. Tive o privilégio de conhecer o Rio das Mortes antes da Hidrovia se concretizar e me engajei na luta, de índios e não-índios, contra esse projeto que acabaria com o meio ambiente e com o potencial turístico que é uma opção de desenvolvimento para os índios e para nossa cidade.

Aqui viajei por idéias, projetos, livros, conversas, filmes, fotos, vídeos, e me senti consciente do meu papel social. Acredito que estou colaborando com o lugar que me acolheu, sentindo que posso agir no meu pequeno espaço, com a certeza de que estou contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do nosso planeta.

Quando foi criado o curso de Turismo eu pensei se havia chegado a hora de fazer outra viagem. Demorou um pouco para decidir. Já era muito tempo sem estudar, tive medo do vestibular, pensava se iria conseguir viver a rotina da universidade novamente. Passei no vestibular. Mesmo assim, ainda ficou a incerteza. Será que vou conseguir?

Passaram-se quatro longos meses de estudo e redescoberta. Meses de novas amizades, de reafirmar minha convicção no ecoturismo como a atividade na qual eu quero trabalhar, de me aproximar com teorias que me auxiliarão nesta nova etapa da minha vida e que têm a força de mover a minha transformação atual.

Hoje, sei o que é um Turismólogo e sei muito bem porque eu quero ser Turismólogo!

Esta reflexão me traz, do fundo da minha memória, uma citação de V. I. Lénine, que é muito importante para mim, que diz:

“ É preciso sonhar ! Mas, com condições de crer em nosso sonho, de realizar escrupulosamente a nossa fantasia. Sonhos: acredite neles ! “

Quero ser Turismólogo porque acredito no sonho de que minha atuação profissional poderá trazer benefícios para mim e para a sociedade, visando a construção de um mundo melhor, fazendo com que o meu trabalho possa colaborar para um futuro equilíbrio entre homem e natureza.

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